

Com programação gratuita, que começou nesta quinta-feira (16), a edição 2025 traz, por meio da literatura e da arte, a diversidade cultural. Entre os autores brasileiros estão presentes Conceição Evaristo, Itamar Vieira Junior, Ana Maria Gonçalves, Nei Lopes e Thalita Rebouças. Entre os estrangeiros, o moçambicano Mia Couto.
A programação conta com mesas de debate, atividades infantis, música e rodas de conversa, em cinco ambientes principais. A Sala Nélson Pereira dos Santos vai receber desde o espetáculo infantil João e o Pé de Feijão no Sertão, da Cia. Teatral Sassaricando, a encontros com autores, e uma conferência com a Monja Coen.
O Palco Darcy Ribeiro, o Espaço Nikitinhos, a Arena Flin e o Palco Povo Brasileiro foram montados especialmente para a feira, realizada pela Prefeitura de Niterói, por meio da Fundação de Arte de Niterói (FAN).
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O diretor de Conteúdo e Programação da Flin e da Niterói Livros, Jordão Pablo de Pão, ressalta que a Festa Literária Internacional de Niterói foi pensada para ser um ponto de encontro de Niterói com o mundo.
“Quando fizemos a curadoria dos nomes, pensamos em trazer as melhores ou potentes experiências no cenário nacional e internacional, aliada ao público local. A gente tem artistas e instituições de letras locais associadas a instituições nacionais como Academia Brasileira de Letras, pessoas de referência como Conceição Evaristo e Ana Maria Gonçalves, e pessoas internacionais ou que trabalham o processo criativo. Estamos indo mais para este lado de literatura de processo criativo”, disse Jordão Pablo de Pão à Agência Brasil.
“A ideia que a gente tinha de uma grande festa como o processo criativo, permite o ser humano se expressar e ao mesmo tempo se construir enquanto indivíduo. Por isso, muitos dos nomes vão participar de mesas pensadas para a gente discutir temáticas e estratégias que eles têm enquanto artistas”, avalia.
Na combinação da literatura com o audiovisual, os destaques são o escritor e roteirista Raphael Montes e o ator e dramaturgo Miguel Falabella, que tiveram obras adaptadas para a televisão, como também o escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo, morto este ano, que também será homenageado. Fernanda Veríssimo, uma das filhas do escritor, o ator Diogo Vilela e o jornalista e escritor Arthur Dapieve participaram de uma mesa montada para celebrar o mestre do humor.
A programação tem uma parte exclusiva para crianças e adolescentes, e vai receber uma das principais autoras desse público. Entre os sucessos da escritora e jornalista Thalita Rebouças, que completou 25 anos de carreira, estão os livros da série Fala sério! e Tudo por um popstar. Ainda nas atividades para o público infantil, o Espaço Nikitinhos promete atrair as crianças com a presença de grupos como Os Tapetes Contadores de Histórias, Lekolé e Violúdico.
“A gente também está discutindo de verdade a questão da literatura jovem adulta, que nos interessa muito. É um público que consome muito livro, faz leitura e está em crescimento”, disse Jordão Pablo.
Curadoria
Um grupo de especialistas divide a curadoria da Flin 2025, que é assinada pela professora, pesquisadora e escritora Vilma Piedade; pela diretora do Instituto de Letras da UFF, Carla Portilho; pelo diretor de Conteúdo e Programação da Flin e diretor da Niterói Livros, Jordão Pablo de Pão; e pela diretora da Blooks Livraria, Elisa Ventura.
No trabalho de curadoria, a parte que trata da questão racial ficou com Vilma Piedade, que se descreve como escritora com E maiúsculo e pesquisadora com P maiúsculo, e tem o trabalho focado nos temas racismo e branquitude, opressão e privilégio.
Vilma Piedade se anima com a troca de saberes que a Flin vai permitir.
“Vem Nei Lopes. Falar em Nei Lopes é falar em toda uma cultura afro-brasileira como escritor, intelectual, educador e sambista; vem a Conceição [Evaristo], a Helena Theodoro. Ela é escritora, primeira professora doutora do Brasil, uma mulher negra de axé e que também faz um trabalho com samba maravilhoso com As Guerreiras do Samba; e tem o Itamar Vieira [Junior]”, disse Vilma Piedade à Agência Brasil.
Ao lembrar de uma expressão lançada por um amigo, Vilma disse que a Flin pode ser chamada de Rock in Rio literário, diante de tantas atrações importantes.
“Mia Couto, que é moçambicano e ganhou o Prêmio Camões; Ana Maria Gonçalves, que entrou na Academia Brasileira de Letras e é a autora de Um efeito de Cor; Conceição Evaristo, que está na Academia Mineira de Letras e é um ícone na literatura”.
“É literatura e arte o tempo todo. Isso estimula a troca de conhecimento com a população participando. Estimula a democracia como disse o prefeito [de Niterói] Rodrigo Neves. [A Flin] Está trazendo arte, cultura e troca de saberes”, acrescentou.
“Estou chamando de um grande aquilombamento textual, literário e artístico”.
Na visão de Vilma Piedade, a Flin vai contribuir também para dar mais visibilidade para os autores e autoras que tratam de cultura negra e de questões raciais. Citou a escritora portuguesa, psicóloga e artista interdisciplinar com raízes em Angola e São Tomé e Príncipe Grada Kilomba, em Memórias da Plantação, que tem a frase ‘Uma mulher negra, diz sou uma mulher negra, e uma mulher branca, diz sou uma mulher. Um homem branco diz eu sou uma pessoa’.
A frase, para ela, mostra que o racismo desumaniza.
“Se parar para observar, nós temos sempre que dizer cultura negra, questão racial, temos sempre que reafirmar isso. Temos hoje um grande número de autores e autoras negras. A nossa primeira romancista Maria Firmina dos Reis, que escreveu Úrsula no século 19, só foi ser falada no século 20. A nossa primeira advogada, Esperança Garcia, é negra, mas só foi resgatada tempos atrás. Temos Carolina Maria de Jesus, com Quarto de Despejo. O que aconteceu? Ela foi traduzida em mais de 40 idiomas. Nasceu, cresceu e morreu no chão. Hoje temos expressões como Djamila Ribeiro. Estamos fazendo esse pensar sobre a nossa filosofia. O racismo negou nossa história, nossos valores, nosso conhecimento, aconteceu um epistemicídio. Essa feira está trazendo essa questão para fazer a troca de saberes. É muito importante”, afirma.
Ela lembra que atualmente existe a literatura infantojuvenil para crianças negras. “Elas não se viam reconhecidas nos livros infantis”, ressalta.
Um dos destaques da literatura infantojuvenil negra é a presença de Rodrigo França, autor do livro O Pequeno Príncipe Preto. “Ele é ator, dramaturgo, escritor. A curadoria é coletiva, mas está na minha área”, explicou Vilma.
A pesquisadora lembra que depois da pandemia muitas livrarias fecharam e o número de publicações digitais cresceu. Esse fator também é considerado pela Flin, que incluiu espaços para discussões sobre esse tema.
“Vai ter mesas trabalhando a inovação e discutindo a IA [inteligência artificial], mas o analógico está presente também”, afirmou.
“A gente começa a entender que existem outras formas de ler possíveis. Isso está muito dentro da gente. A gente está falando muito de oralidade, do papel da internet e da tecnologia nesse processo de leitura, e a Flin trata disso também”, explica Jordão Pablo de Pão.
A entrada na Sala Nelson Pereira dos Santos é a partir da distribuição de senhas 2 horas antes do início de cada atração. Para a Arena Flin é por ordem de chegada, sujeita a lotação. Os outros espaços têm trânsito livre.
Informações sobre a programação estão no site da feira.
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