
“Nós temos o compromisso, e o governo federal fará, em relação ao Tapajós, uma consulta livre, prévia e informada a todos os povos da região, antes de implementar qualquer projeto no rio. E nós, da Secretaria-Geral da Presidência da República, criaremos uma mesa de diálogo com todos esses povos, para recebê-los em Brasília e construir a solução”, disse Boulos.
O ministro afirmou ter falado ao telefone sobre o tema com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, pouco antes de chegar no encerramento da Cúpula. Ele disse ainda que o governo irá prosseguir com a demarcação de terrras indígenas.
"Haverá mais demarcações, e esse é o compromisso do presidente Lula, de que, até o ano que vem, mais demarcações serão feitas, garantindo o compromisso do nosso governo com a Amazônia, com os nossos povos e com os movimentos sociais", disse.
O protesto dos Munduruku foi realizado na manhã de sexta-feira e bloqueou a entrada da Zona Azul, onde são realizadas as negociações da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) e reservado a pessoas credenciadas no evento.
De forma pacífica e apoiados por ativistas e povos indígenas de outros países, os Munduruku reivindicavam uma reunião com o presidente Lula e a revogação do Decreto nº 12.600/2025, que prevê a privatização de empreendimentos públicos federais do setor hidroviário nos rios Madeira, Tocantins e Tapajó.
Eles também criticam a construção da Ferrogrão, uma ferrovia que ligará o Mato Grosso ao Pará, para escoamento de produção agrícola, com impactos sobre o modo de vida dos indígenas e pressão sobre suas terras. Após o protesto, os indígenas foram recebidos pelo presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago.
Acompanhado das ministras do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, Boulos lembrou da manifestação e disse que os atos estão fazendo diferença na COP30.
“Você sabe, Marina, que veio gente da imprensa falar que está tendo muita manifestação na COP. Se tem manifestação na COP, é sinal que o povo está participando da COP. E é isso que a gente quer”, disse Boulos.
"Para que ela [a COP] seja efetiva tem que ser com participação social, e quem representou, com excelência, a participação e a voz do povo nessa COP foi a Cúpula dos Povos, os povos indígenas, os povos quilombolas e ribeirinhos da Amazônia”, completou.
Carta
Neste domingo, foi divulgada a carta final da Cúpula dos Povos, que critica o que os participantes classificaram como “falsas soluções” para o enfrentamento da emergência climática.
“Nossa visão de mundo está orientada pelo internacionalismo popular, com intercâmbios de conhecimentos e saberes, que constroem laços de solidariedade, lutas e de cooperação entre nossos povos. As verdadeiras soluções são fortalecidas por essa troca de experiências, desenvolvidas em nossos territórios e por muitas mãos. Temos o compromisso de estimular, convocar e fortalecer essas construções”, diz o documento.
A carta aponta o modo de produção capitalista como causa principal da crise climática crescente e ressalta que as comunidades periféricas são as mais afetadas pelos eventos climáticos extremos e o racismo ambiental.
O texto aponta que as empresas transnacionais, a exemplo das indústrias de mineração, energia, armas, agronegócio e Big Techs são as principais responsáveis pela catástrofe climática. A carta pede a demarcação de terras indígenas e de outros povos; reforma agrária e fomento a agroecologia; fim do uso de combustíveis fósseis; financiamento público para uma transição justa, com taxação das corporações, agronegócio e dos mais ricos; fim das guerras e cobra maior participação dos povos.
Cúpula
A Cúpula dos Povos reuniu cerca 70 mil pessoas de movimentos sociais locais, nacionais e internacionais, povos originários e tradicionais, camponeses/as, indígenas, quilombolas, pescadores/as, extrativistas, marisqueiras, trabalhadores/as da cidade, sindicalistas, população em situação de rua, quebradeiras de coco babaçu, povos de terreiro, mulheres, comunidade LGBTQIAPN+, jovens, afrodescendentes, pessoas idosas, dos povos da floresta, do campo, das periferias, dos mares, rios, lagos e mangues.
O evento, considerado o maior espaço de participação social da conferência climática, começou na última quarta-feira (12), em paralelo à COP30, com críticas à ausência de maior participação popular na COP30. Para as cerca de 1,3 mil organizações e movimentos que participaram da cúpula, os países e tomadores de decisão, especialmente dos países ricos, têm se omitido ou apresentado soluções absolutamente ineficientes colocando em risco a meta de 1,5°C do Acordo de Paris.
Após os cinco dias de debates, mobilizações e manifestações que marcaram Belém, a Cúpula termina com um “banquetaço”, na Praça da República, no centro da capital paraenses, com a distribuição de comida, feita pelas cozinhas comunitárias e celebração cultural aberta ao público.
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