MAIS LIDAS

    postado em 25/12/2025 11:40

    Duas pesquisadoras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj foram selecionadas para participar do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) para atuar como autoras do relatório do 7º Ciclo de Avaliação. Elas integram um seleto grupo de 664 especialistas de 111 países escolhidos pelo IPCC.

    Segundo a Uerj, apenas 18 pesquisadores brasileiros compõem o novo ciclo do IPCC, e a universidade estadual é a única instituição brasileira a participar com duas mulheres, “evidenciando tanto a excelência científica da universidade quanto a importância da presença feminina em espaços estratégicos de formulação de políticas globais baseadas em evidências científicas”. 

    O relatório do IPCC é uma das principais referências internacionais sobre a crise climática, sendo referendado por todos os países signatários da ONU e utilizado para orientar decisões governamentais, acordos internacionais e estratégias de adaptação e mitigação. O documento recomenda políticas públicas e ações, mas não obriga as nações a adotar as medidas nele contidas.

    A cada ciclo de avaliação, os especialistas selecionados analisam os conhecimentos científicos mais recentes sobre temas como os indicadores físicos das mudanças climáticas, seus impactos e riscos associados, além das possibilidades de respostas por meio de adaptação e mitigação.

    A primeira reunião dos autores-líderes e coordenadores dos três grupos de trabalho do 7º Ciclo ocorreu na primeira semana de dezembro, em Paris.

    Os três grupos de trabalho do IPCC abordam dimensões centrais das mudanças climáticas. O Grupo de Trabalho 1 dedica-se às bases físicas do clima; o Grupo 2 analisa impactos, vulnerabilidades e adaptação; e o Grupo de Trabalho 3 trata da mitigação de gases de efeito estufa. O 7º Ciclo de Avaliação será concluído em 2028 com o lançamento do Relatório Síntese.

    Por ser signatário da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), o Brasil pode indicar cientistas para compor o painel, cabendo ao IPCC a seleção com base na área de atuação, especialidades e produção científica. As professoras Letícia Cotrim e Luciana Prado, ambas da Faculdade de Oceanografia da Uerj, foram escolhidas, respectivamente, como autora-coordenadora e autora-líder do Grupo de Trabalho 1.

    Letícia Cotrim, do Departamento de Oceanografia Química, já atuou como autora-líder no 6º Ciclo de Avaliação (2018-2021). Ela está participando como um dos três autores coordenadores do capítulo 4: avanços no entendimento de processos no sistema terrestre e mudanças associadas ao clima.

    “Dentro do escopo delineado pelo IPCC para este capítulo, entram aspectos do funcionamento de ecossistemas terrestres, marinhos e costeiros, e suas interações com a atmosfera e a criosfera (polos e regiões de alta montanha com geleiras)”, explica a professora.

    Para Luciana Prado, do Departamento de Oceanografia Física e Meteorologia, ser selecionada para integrar o IPCC representa um marco importante na carreira já que houve muitas inscrições no mundo inteiro para participar do 7º Ciclo. A professa explica que vai participar do Capítulo 2, que vai descrever as mudanças climáticas observadas nas últimas décadas do ponto de vista global, uma espécie de diagnóstico global.

    “A minha parte está relacionada a compilar os estudos que foram feitos para climas passados, é a paleoclimatologia. Olhando para essas situações, a gente consegue entender melhor como o sistema climático funciona para fazer melhores projeções futuras”, completa Luciana.

    Grupo de Trabalho 1

    Os temas analisados pelo Grupo de Trabalho 1 incluem gases de efeito estufa e aerossóis na atmosfera; mudanças de temperatura do ar, da terra e dos oceanos; ciclo hidrológico e alterações nos padrões de precipitação; eventos climáticos extremos; geleiras e calotas polares; oceanos e elevação do nível do mar; biogeoquímica e o ciclo do carbono; além da sensibilidade climática.

    A avaliação científica combina observações, dados de paleoclima, estudos de processos, teoria e modelagem, oferecendo uma visão abrangente do sistema climático, de sua evolução e das causas das mudanças observadas. O processo de elaboração dos relatórios prevê ainda rodadas de revisão por cientistas e governos signatários, antes da aprovação do sumário final, que orienta compromissos internacionais.

    O próximo encontro dos autores do IPCC está previsto para abril de 2026, em Santiago, no Chile.

    Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

    Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. Clique aqui e saiba mais.