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    postado em 08/10/2025 16:54

    Rafael Dornelles, de 27 anos, se tornou figura notória nas redes sociais nas últimas semanas, pela sua participação no Brasil Grime Show, ao lado de Yung Peachie e Cesanne, com bases lideradas pelo DJ diniBoy.

    O projeto audiovisual consiste em reunir artistas da cena do rap e hip-hop, que rimam em beats de Grime, gênero surgido em Londres, na Inglaterra, derivado da música eletrônica, que mistura reggae, dusbtep, garage e outros, tocados por um DJ. A participação do trio se definiu como um verdadeiro manifesto, e escancarou as contradições de uma cena que ainda precisa aceitar a força criativa de artistas para além da heteronomartividade.

    Yung Peachie, Dornelles e Cesanne (Foto: Daniel Neves)

    Bacharelando em Publicidade, e ex-estagiário de programação de conteúdo da Playboy do Brasil, Dornelles se destaca como uma figura promissora da cena musical brasileira, com posicionamento explícito de um artista queer no funk. ‘Cria’ de Olaria, zona norte do Rio de Janeiro, ele define que seu trabalho busca ser “escandaloso”.

    “O nosso trabalho já é pra ser escandaloso, a gente sabe que qualquer coisa que a gente fizer vamos receber hate”, diz Dornelles, sem rodeios, em entrevista exclusiva ao Observatório dos Famosos. A apresentação viral no Brasil Grime Show não apenas marcou um divisor de águas em sua trajetória, mas também trouxe as reações divididas entre aplausos e ataques. “A galera desmascarando uma coisa da cena do rap que acontece muito, que é esses machos héteros que pagam de superinteligentes, mente aberta, mas quando veem LGBTs criando tanto quanto eles quebram a cabeça”, provoca.

    O episódio ocasionou um marco e também trouxe reflexão sobre questões de espaço – ou pela falta dela -, para artistas queer. Dornelles, com seus seis anos de carreira, compreende o processo dificultoso de percorrer caminhos onde poucos ousam pisar. “É muito difícil de chegar nesses espaços de privilégio, principalmente vindo do Rio de Janeiro. (…) É confuso pensar que era necessário, mas o hate realmente faz acontecer. Cheguei num nível mental em que eu não me importo mais. Quanto mais a gente vai aparecendo, mais vai incomodando”, reflete.

    Dornelles (Foto: Mateus Monteiro/@movente)

    Numa percepção geral entre quem pode falar de desejo e quem é punido pela prática literal do sexo, Dornelles expõe a lógica seletiva da indústria: o erotismo heteronormativo é visto como “ousado”, enquanto o teor queer é “provocação”. “A maior crítica que fizeram era que a gente só falava de ‘pau’. Com todo respeito, os héteros só falam sobre ‘xereca’ o tempo todo, e nem é algo que eu pratico”, ironiza.

    O artista carioca, no entanto, recusa o papel de vitimista, e é resistente em suavizar o discurso em suas letras. “Quando eu falo sobre banheirão, programa, essas coisas existem, mas as pessoas não falam, porque é sujo. É como se fosse um submundo do mundo LGBT, mas o funk existe para falar sobre essas mazelas, tanto boas quanto ruins”, explica. “Não é fortalecimento de estereótipo. Eu estou falando sobre uma realidade que existe”, reforça.

    Apesar do sinônimo de força, Dornelles ressalta a estrutura construída pelo mercado musical e que ainda limita o alcance de artistas LGBTQIAPN+. “As playlists do funk, por exemplo, eu vim entrar esse ano, em 2025, porque ‘Putífero Pro Max’ viralizou. Quando falamos sobre playlist editorial geralmente coloca a gente em uma playlist LGBT, que nos empurra para um nicho. Eu faço funk. Essas playlists de pauta é muito importante, mas que nunca nos limite”, diz ele.

    Ainda que vivencie os desafios de ser um artista queer carioca, Dornelles busca transformar as adversidades em arte, tornando o ritmo dançante em uma linguagem de pertencimento. “Os outros gays como eu, que vem de favela, escutam desde criança. Quando são artistas que vieram depois de mim, eles veem uma possibilidade. Estar nesse lugar de cantar a minha realidade, lucrar com isso, vender meu trabalho não é nada fácil, possui vários recortes, mas é muito gratificante”, conta.

    Após o impacto do Brasil Grime Show, o artista se mantém firme como nunca no desejo de fortalecer seu reconhecimento além de nichos. “Estou com um projeto de um lançamento por mês até o verão”, revela, adiantando também uma parceria com uma drag queen ainda mantida em segredo.

    Ainda que observe a resistência do mainstream para corpos LGBTQIAPN+, Dornelles tem consciência de que o caminho é longo, mas sua arte se configura como um símbolo de resistência, não apenas no funk, mas na cultura urbana brasileira.

    Dornelles (Foto: Mateus Monteiro/@movente)

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    O post Dornelles e o funk queer: representatividade e resistência periférica no Brasil Grime Show foi publicado primeiro em Observatório dos Famosos.

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