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    postado em 17/10/2025 03:36

    Thiago Lacerda, no ar na reprise de Terra Nostra, está em Salvador para apresentar dois espetáculos neste fim de semana no Teatro Faresi, em Ondina.

    No sábado (18), às 19h, o ator mergulha profundamente em personagens clássicos de William Shakespeare, com o Quem Está Aí?, mostrando toda a complexidade e reflexões do dramaturgo inglês.

    Já no domingo (19), o ator apresenta uma leitura de contos eróticos de Carlos Drummond de Andrade, O Amor Natural, às 17h. Algo intimista, que promete manter um diálogo com a plateia sobre assuntos polêmicos, como vitalidade, desejo e prazeres.

    Nesta entrevista exclusiva ao Observatório da TV, Thiago Lacerda dá detalhes do espetáculo Quem Está Aí, desmistifica o peso de um monólogo e conta das transformações e percalços que o projeto enfrentou ao longo dos últimos anos.

    Observatório da TV: É assustador fazer um monólogo? Exige mais recursos do ator para lidar com imprevistos em cena?

    Thiago Lacerda: É, a ideia de estar sozinho em cena é um grande desafio. Mas tenho muitos apoios durante o espetáculo. O resto é confiar na magia do palco, na ideia de que o palco encontra um caminho, e esse jogo com a plateia é muito forte também. A plateia, via de regra, está do nosso lado, apoia o andamento do espetáculo, então tudo isso dá um certo reforço na coragem. Mas a verdade é que tem sido desafiador e também muito interessante, muito prazeroso.

    Observatório da TV: Como fazer um passeio por personagens icônicos de William Shakespeare e manter uma harmonia cênica entre eles?

    Thiago Lacerda: A proposta do Quem Está Aí? é muito mais um exercício do ator com a palavra, com o pensamento shakespeariano. É fruto de 13 anos de trabalho de pesquisa com Ron Daniels. A gente se encontrou, pela primeira vez, em 2012, para montar o nosso Hamlet. De lá pra cá, montamos o Medida por Medida e o Macbeth.

    É claro que toda a obra de Shakespeare tem uma linha de costura humana. Ele trata de assuntos recorrentes, de pontos de vista diferentes. O Ron brinca que o ‘Shakespeare só escreveu uma peça 38 vezes (risos)’. Na verdade, é claro que essa harmonia existe. O diálogo entre eles existe, mas acima de tudo a gente tenta trazer um trecho de narração da fábula. Leio uma fábula que a gente criou pra ambientar a plateia no momento em que o monólogo se insere. Me referindo concretamente às peças específicas. Então eu acho que a gente ajuda a compreensão de alguma forma, o ânimo do personagem naquele momento. Conecta essa ideia com o exercício da palavra e do pensamento shakespeariano.

    O espetáculo tem a ideia de trazer uma simplicidade cênica. A gente procura trazer o foco da plateia para a palavra, para a imagem que o Shakespeare lança mão para contar a história dele e, ao longo desses anos, a gente tem tido êxito nesse sentido. Nessa pesquisa de trazer o texto em primeiro plano, oferecer principalmente o texto e a fábula shakespeariana para o ouvido da plateia brasileira de forma direta, objetiva e clara, que as pessoas compreendam as reflexões e as imagens, então um pouco por aí.

    Thiago Lacerda. Foto: Marcelo Elias/ @marceloeliasfoto

    Observatório da TV: Como surgiu a ideia do espetáculo?

    Thiago Lacerda: O Quem Está Aí? surge de uma circunstância da pandemia, né? Tínhamos uma necessidade de voltar a trocar com o público, de nos conectar no meio daquela loucura que a gente viveu, daquela clausura, daquele medo, daquela insegurança toda. Nós tivemos uma proposta do Sesc de São Paulo por um formato on-line, a gente pensou em adaptar, nós não tínhamos nada, nada pronto e a ideia era adaptar um romance do Albert Camus, A Peste, que fizemos, mas às vésperas da estreia a gente teve problemas com direitos autorais e a gente foi obrigado a ter uma outra ideia. Como nós já tínhamos em repertório três peças do Shakespeare, como já tínhamos encenado essas peças e conhecíamos o texto e tudo mais, o trabalho foi tentar compilar esses monólogos, organizar tudo isso com uma narração que fizesse sentido, pra um exercício de unificação nos textos dos personagens e, a partir disso, surge o espetáculo. Nós apresentamos no formato online, não é teatro, não é novela, era uma outra coisa que surgiu naquela época e guardamos o caminho.

    Quando passa a pandemia e a gente começa a retomar, a gente se deu conta de que tínhamos dois monólogos e que era hora de sair pelo Brasil, sair por aí contar essas histórias. Dessa vez, em Salvador, a gente chega com Quem Está Aí?, que é essa reunião dos monólogos de Shakespeare. […] Então, o espetáculo surge disso, de uma necessidade naquela situação de exceção de continuar nos conectando com o público, continuar contando histórias, usando a arte como um caminho de companhia de entretenimento, um caminho de salvamento mesmo e de resgate, de esperança, então cá estamos, pós-pandemia, trazendo essa memória para o palco, trazendo essa reflexão do tempo que a gente viveu para o palco através do Shakespare.

    Thiago Lacerda. Foto: Marcelo Elias/ @marceloeliasfoto

    Observatório da TV: Apesar de abordar temas comuns nas pessoas, como ambição, loucura, justiça, William Shakespeare, muitas vezes, é associado como algo elitizado. Qual é sua opinião sobre isso?

    Thiago Lacerda: É, eu acho que existe uma hora de identificação sobre a obra do Shakespeare, que distancia um pouco as pessoas, né? São muitos séculos dessas histórias ecoando por aí, de um outro tempo. Eu acho que as tradições no Brasil contribuem um pouco para esse distanciamento. O fato é que a minha proposta e a proposta do Ronaldo, desde 2012, é romper com esse distanciamento, é de que forma a gente ultrapassa essa ideia do custo de mármore shakespeariano e traz as histórias por aqui para o agora, para o hoje, para que a gente nesse momento tenha condição de a partir de uma perspectiva imensa, sublime que a obra dele tem. É refletir sobre o que nós somos. É importante para nós que o público saia do teatro acessando a reflexão shakespeariana, acessando a condição humana. E, nesse sentido, a gente rompe com esse distanciamento, traz o público pra mais perto das peças. Eu acho que o Shakespeare sempre foi um autor popular, esse é o principal caráter das peças e da obra dele, é claro que, como gênio que era, ele abraçava muitas categorias, falava pra todo mundo porque a respeito de nós que ele discorre. Mas esse distanciamento existe. Eu acho que tem a ver com o tempo da obra, eu acho que tem a ver com outras épocas, eu acho que tem a ver também com uma certa dedicação a essa coisa genial, essa coisa deificada. Eu acho que, pra nós, atores, meu trabalho com Ronaldo, o que importa é o contrário, é a gente acessar essa mitologia, acessar essa imensidão humana e decodificar isso a ponto de trazer para as pessoas compreenderem a proposta e o que está sendo contado.

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